quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

QUASE TODOS

Lareira que me acolhe em
Novembro quase estranho
Numa sala do ribatejo mexe
Nemésio as mãos sábias e pose
De cão de estar na tv preta
E branca sobre um parapeito
Com estante e dezenas de
Livros da colecção vampiro.

Quentes as vozes dos anfitriões
E as nossas.

Quase todos mortos.

26/27-II-2013

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

DO MERECIMENTO

Rápida   esguia
Apanhado o cabelo   oh
Tão bem apanhado
Passas-me por baixo
Da janela e nem suspeitas
Que o vislumbre dos teus quadris
Adivinhados sob o longo casaco
Doutra época os sapatos dum
Castanho eduardino ou vitoriano
E o teu cabelo apanhado   oh
Tão bem apanhado   nem suspeitas
Me mereceram este poema.

19/21-II-2013

domingo, 17 de fevereiro de 2013

ÁRVORE -- atraiçoo Mario Benedetti

Era uma árvore sem nome que à noite
não em todas as noites mas em algumas
se tornava quase luminescente
como um tic vegetal da sua alegria

mas as corujas e os morcegos
as corujinhas e os mochos
ficavam tão perplexos
que desapareciam

e no entanto ela era assim
porque aquela árvore albergava
um sentimento em cada folha
e a luminescencia apenas era
a excitaçao do seu coração

numa noite de tempestade
um raio abrigou-se na sua copa
mas esta não apagou as suas luzes
e o raio desfez-se

há que ter em atenção
que em cada amanhecer
a árvore apagava-se
isto é dormia

às vezes despertava
cheia de passarinhos
mas não era a mesma coisa

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

O QUE INTERESSA

Esmifra-te pá!

Instalado copo
Na mão cigarrilha
Entredentes tenho
O cinismo para tirar
O insuficiente do que
Escreves para existir.

Mantém-te pobre pá
Incorrupto e só
Só durante o tempo
Que o talento to permitir.

Não tenho a coragem
Do teu sofrimento se
Fores dos meus deixarás
Gargalo e mortalha e
Passarás empoltronado
Ao amor que  segura.

Passarás ao que interessa.

I/II - 2013