segunda-feira, 30 de abril de 2012

PINHEIROS

Pinheiro devastado
Arrancado à infância
Arrancada às raízes.

Pinheiros
Minhas árvores
Arrancadas à devastada
Infância em flor.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

MUNDO DE AVENTURAS


Uma pequena aldeia na planície arménia
Nevoeiro matinal no porto de dieppe
O silvar agudo no cimo dos cárpatos
Um castelo solitário num lago escocês

Um junco chinês no mar do japão
Um trilho de camelos na rota da seda
Um catre vazio no mosteiro da arrábida
Uma via romana na serra do gerês

Uma mesa de cozinha e odores de outono
Um eucaliptal onde brinco com o avô
O último número da revista tão esperada
Despojos da infância que se me acabou.

                                                                                           
21 de Março de 2001

segunda-feira, 23 de abril de 2012

HURRAH!

Os olhos eram inexpressivos mas a matrona tchetchena estava feliz como há muito lhe não sucedia   Encontrara o cadáver do neto   Tinha treze anos e brincava com as irmãs no jardim quando passaram os russos e decidiram cortar pela raiz o embrião de terrorista.

28-VI-2003

sexta-feira, 20 de abril de 2012

FRANJA

A franja esconde
Te os olhos grandes
O vestido justo molda
Te as coxas exuberantes
Tão descaradas como
Os teus grandes olhos
Escondidos pela franja.

VI-2003

quarta-feira, 18 de abril de 2012

UM SOBREVIVENTE DO TARRAFAL

Vejo-o velho
Anarquista digno
E austero casaco
Abotoado sem
Gravata nem
Dentes

Quase pede licença para falar

Chega-me um
Hálito de morte
Com a sua voz
Sumida   não me importa
Tanto o que diz
Nem como o diz
A figura é tudo.
24-V-2003

segunda-feira, 16 de abril de 2012

SOL DE JUNHO

O sol de Junho irradia
Sem extinguir-se a moinha
A chover-nos dentro.

Somos atravessados pela melancolia
Choro intenso de lágrimas secas.

Trazemos em nós o próprio feto
Que continuamente violentamos.

VI-2001

sexta-feira, 13 de abril de 2012

RECORRÊNCIA

O pássaro na mão
E eu a pô-lo a voar.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

PERSEGUIÇÃO

Se te distraíste quando falavas e as palavras resvalaram
Se deixaste ferver em demasia a água para o chá
Se um frémito te invade o centro do corpo e sobe até o esmagares com os lábios
Fui eu que passei por baixo da tua janela para estar mais próximo
Fui eu que rondei a tua casa na esperança de te ver à porta.

Eu 
Que me recuso a largar-te e não te deixo em paz.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

NUM DEPÓSITO

[Hemeroteca de Lisboa]

Volumes e volumes de jornais encadernados.

O tudo que é nada.